Berta Gleizer Ribeiro
Berta Gleizer Ribeiro | |
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Conhecido(a) por |
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Nascimento | 2 de outubro de 1924 Bălţi, Bessarábia, Principado da Moldávia |
Morte | 17 de novembro de 1997 (73 anos) Rio de Janeiro, Brasil |
Residência | Brasil |
Nacionalidade | brasileira |
Cônjuge | Darcy Ribeiro |
Alma mater |
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Prêmios | Ordem Nacional do Mérito Científico |
Orientador(es)(as) | Amadeu José Duarte Lanna |
Instituições | |
Campo(s) | Etnologia, antropologia, museologia |
Tese | A civilização da palha. A arte do trançado dos índios do Brasil (1980) |
Berta Gleizer Ribeiro (Bălţi, 2 de outubro de 1924 — Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1997) foi uma antropóloga, etnóloga e museóloga brasileira, autoridade em cultura material dos povos indígenas do Brasil. Foi casada com o também antropólogo e senador Darcy Ribeiro.[1]
Anos primeiros[editar | editar código-fonte]
Berta Ribeiro nasceu em 1924, na cidade de Bălţi (em alemão: Belz) (atualmente na Moldávia), na região romena da Bessarábia. Era filha de Motel e Rosa Gleizer. Motel deixou a Bessarábia em 1929 para se mudar para o Brasil e retornou à Europa para trazer a família com a morte de Rosa, por suicídio e com o aumento do antissemitismo. Berta chega ao Rio de Janeiro, na companhia da irmã, Genny (às vezes escrito Jenny) e do pai, em 1933, indo morar nos arredores da Praça XI, reduto da comunidade judaica na época[1][2].
Em 1934, sua irmã Genny mudou-se para São Paulo, onde trabalhou como operária têxtil e depois num escritório[3]. Provavelmente foi nesse período que ingressou na Federação da Juventude Comunista, mas foi presa e deportada pouco tempo depois, por "atividades subversivas"[3]. Genny foi torturada e interrogada antes da deportação, seu paradeiro permaneceu um mistério até mesmo para a família, que liderou a busca pela parente em jornais e revistas com a frase "Onde está Genny?". Mesmo com protestos contra a prisão, Genny foi transportada para a Europa, via Porto de Santos, por decreto presidencial, por possuir propaganda marxista e propagar ideais comunistas. Motel vai para a Europa à procura da filha, mas foi preso e levado a um campo de concentração, onde morreu[3][2]. Genny escapou da Segunda Guerra Mundial pela tripulação do navio, que a deixou ir. Ela viveu na França, Peru e na Rússia até se estabelecer nos Estados Unidos, formou-se em psicologia e onde faleceu de causas naturais[3][4].
Berta ficou sozinha no Brasil, sob a guarda do Partido Comunista Brasileiro (PCB), onde seu pai, líder sindical e sua irmã, eram militantes e filiados. Entre 1936 e 1947, Berta mudou-se para São Paulo, estudando na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, frequentando o Curso Técnico de Contabilidade. Para levantar dinheiro para concluir seus estudos, foi datilógrafa e, com este emprego, mudou-se para uma pensão, tornando-se independente do PCB[1][3][2].
Em 1946, conhece seu futuro marido, Darcy Ribeiro, em uma manifestação do Partido Comunista, casando-se em maio de 1948, quando Darcy ingressou no Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Com ele, partiram para trabalho de campo entre os índios Kadiwéu, Kaiowás, Terenas e Ofaié-Xavantes do sul do Mato Grosso[1].
Carreira[editar | editar código-fonte]
Em 1950, Berta ingressou no bacharelado em Geografia e História da Universidade do Distrito Federal, hoje a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Concluiu o curso em 1953, indo lecionar Geografia do Brasil no Instituto Lafayette[1]. Em 1953, começou a estagiar na Divisão de Antropologia do Museu Nacional, iniciando seus estudos para criar uma classificação dos adornos plumários dos índios Urubu-Kaapor[1], concluindo sua licenciatura em Geografia e História em 1954[1][2].
Apresentou diversos trabalhos e organizou mostras culturais nos anos seguintes, sempre com temáticas sobre cultura indígena. Recebeu o Prêmio João Ribeiro de Ensaios, da ABL, pelo livro Arte Plumária dos Índios Kaapor, em colaboração com Darcy Ribeiro[1].
Exílio[editar | editar código-fonte]
Com o Golpe de Estado no Brasil em 1964, Berta e o marido exilaram-se no Uruguai. Ambos trabalharam em pesquisa bibliográfica e em revisão de traduções para a série Estudos de Antropologia da Civilização, de Darcy Ribeiro. Berta e o marido retornaram em 1968, mas Darcy foi preso e ficou durante oito meses na Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói. Do lado de fora, Berta mobilizou intelectuais e pessoas influentes para agilizar sua libertação[1].
Em 1969, o casal se exilou na Venezuela e de 1970 a 1974, exilou-se no Chile e no Peru. Em Lima, pesquisou sobre estrutura familiar e socialização[1].
Retornou ao Brasil em 1974, separando-se de Darcy Ribeiro. No ano seguinte, presta consultoria para a elaboração do projeto do Centro de Documentação Etnológica e Indigenista do Museu do Índio, dirigido por Carlos de Araújo Moreira Neto, assumindo assistência de direção da Editora Paz e Terra em 1976. Neste mesmo ano, estagia no setor de Etnologia e Etnografia do Departamento de Antropologia do Museu Nacional e realiza trabalhos de pesquisa no projeto “Etnografia e emprego social da tecnologia indígena e popular”[1].
Em 1977, torna-se Pesquisadora B do CNPq. Visitou diversas aldeias indígenas no Alto e Médio Xingu e no Ceará. Entre 1978 e 1979, participou do Movimento Feminino pela Anistia e da Campanha pela demarcação das Terras Indígenas, coordenada pelo Conselho Indigenista Missionário - CIMI[1].
Berta tinha uma extensa coleção de artefatos, desenhos, fotografias e amostras de espécimes vegetais, barro e tinta. Estudou a fundo técnicas de fiação, tecelagem entretecida, tecelagem enlaçada (filé), uso de corantes e fibras têxteis, destinando-os para o acervo do Museu Nacional[1].
Em 1980, defendeu seu doutorado na Universidade de São Paulo, sob a orientação do professor Amadeu José Duarte Lanna, com a tese intitulada "A civilização da palha. A arte do trançado dos índios do Brasil"[1][5].
Berta visitou museus pelo mundo, organização exposições sobre a arte e cultura indígenas do Brasil, além de publicar constantemente sobre povos e costumes. Foi assessora da FUNAI e chefe de museologia da mesma instituição, em 1985. Foi professora visitante no programa de mestrado da Escola de Belas-Artes (UFRJ)[1].
Em 1988, foi professora assistente nível 1 do Departamento de Antropologia do Museu Nacional, desligando-se do Museu do Índio. Berta foi membro da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), do Conselho Regional de Museologia do Rio de Janeiro; do Conselho Editorial das Revistas Ciências em Museus, Ciência Hoje das Crianças e dos Anais do Museu Paulista; da Comissão Julgadora da seleção para a Pós Graduação em Artes Visuais, mestrado em História e Crítica da Arte, na Escola de Belas-Artes (UFRJ)[1].
Aposentadoria e morte[editar | editar código-fonte]
Em 1995, devido a um tumor cancerígeno, Berta entrou em coma. Um pouco antes, em sua própria casa, recebeu do governo brasileiro a Ordem Nacional do Mérito Científico. No ano seguinte aposentou-se em decorrência da doença, falecendo em 17 de novembro de 1997, aos 73 anos, exatamente 9 meses após o falecimento de seu ex-marido Darcy Ribeiro.[1]
Publicações[editar | editar código-fonte]
Lista resumida:
- Arte Indígena, Linguagem Visual. Ensaios de Opinião 7: 101-110, Rio de Janeiro.
- Diário do Xingu. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 265p. (Há comentários de Maria Stella Amorim, O Globo, 3/2/80; Carmem Junqueira, Leia Livros, março 1980; Márcio Souza, Porantim, agosto 1980; Maria Isaura Pereira de Queiroz, Ciência e Cultura 35(7): 1033-1034, 1983).
- Artesanato indígena: para que, para quem? In: Diversos autores. O Artesão Tradicional e o seu Papel na Sociedade Contemporânea, p. 11-48, Rio de Janeiro, Funarte. (Edição bilíngue português-inglês – Organização: Lélia Coelho Frota).
- O Índio na Cultura Brasileira. Vol.3 da Enciclopédia da Cultura Brasileira, coordenação: Antônio Houaiss, Unibrade/UNESCO, Rio de Janeiro, 186p., 23 ilustr. Segunda edição:1991, Editora Revan.
- Dicionário do Artesanato Indígena. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, 343p.
- Amazônia Urgente: Cinco séculos de História e Ecologia, Belo Horizonte, Ed. Itatiaia/INEP-MEC/CNPq/Vitae, 272 p.
- Uma proposta museológica: Amazônia urgente: Cinco séculos de História e Ecologia. Ciências em Museus (1989) 2: 171-179, Belém, Museu Emílio Goeldi.
- História dos Índios no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras/FADESP/SMC.
- Índios no Brasil, São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura, p. 135-144.
- Indian Management of Amazonian Ecosystems. In: Towards Eco-Ethics. Visions of Culture, Science, Technology and Nature. Ubiratan D’Ambrosio & Vladislav Kotchetkov (Eds.), 3rd UNESCO Science and Culture Forum, Belém, p.97-102.
- Os Amazônidas – The Amazonians. In: Luiz Emygdio de Mello Filho et alii, Amazônia, Flora e Fauna. Rio de Janeiro, Edições Alumbramento, p. 289-310.
- Etnomuseologia: da coleção à exposição. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo, n° 4, p. 189-201.
- Os Índios das Águas Pretas: Modo de Produção e Equipamento Produtivo. São Paulo: Companhia das Letras/Edusp, 270p.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q Fundação Darcy Ribeiro (ed.). «Perfil de Berta Ribeiro». Fundação Darcy Ribeiro. Consultado em 10 de dezembro de 2016
- ↑ a b c d Consuelo Pondé (ed.). «A Antropóloga Berta G. Ribeiro». Tribuna da Bahia. Consultado em 10 de dezembro de 2016
- ↑ a b c d e Portal Vermelho (ed.). «O caso Genny Gleizer: a garota judia e comunista deportada por Vargas». Portal Vermelho. Consultado em 10 de dezembro de 2016
- ↑ Cláudia Maria Calmon Arruda (ed.). «Memórias num bordado: traços de Genny Gleizer no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro». Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Consultado em 10 de dezembro de 2016
- ↑ Universidade de São Paulo (ed.). «A civilização da palha: a arte do trançado dos índios do Brasil.». Pós-Graduação FFLCH. Consultado em 10 de dezembro de 2016