No seguimento do projecto Paisagem e Povoamento iniciado em Sines (Maio a Setembro de 2008), realizou-se em Montemor-o-Novo, entre os meses de Maio e Dezembro de 2009 uma segunda residência artística. Os participantes tiveram a possibilidade de desenvolver o seu trabalho, tendo como centro de operações as Oficinas do Convento, e sendo a premissa do projecto pensar a paisagem no seu sentido mais lato: paisagem enquanto sistema complexo e dinâmico onde diferentes factores interagem e evoluem em conjunto.
O grupo contou com o acolhimento da Associação Oficinas do Convento e da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo e com o apoio adicional da Galeria 9 Ocre, do Centro Cultural Emmerico Nunes e da Epson; a todos agradece vivamente. Um reconhecimento particular é devido a Tiago Froís da Associação Oficinas do Convento, a Anabela Ferreira do Centro Juvenil, a Vasco Amanajás da Câmara Municipal e a Manuel Casa Branca da Galeria 9 Ocre.
A presente publicação foi desenhada por Joana & Mariana.

No dia 27 de Junho 2009 foi inaugurada, numa sala do Centro Juvenil, a Biblioteca Mínima sobre Paisagem (BMP), onde se puderam – ao longo da duração desta residência – consultar livros escolhidos e emprestados por cada um dos artistas participantes. Esse sítio e esses livros tiveram o propósito de servir como espaço de reflexão /debate – de partilha com o público daquilo que cada membro do grupo considera estruturante na sua noção de Paisagem e Povoamento. Além dos livros, foram disponibilizados diversos filmes, cuja selecção esteve a cargo de Nuno Lisboa.

No dia 27 de Junho foi inaugurada, no Arquivo Municipal, uma mostra do material documental inédito da residência Paisagem e Povoamento I – Sines. No longo corredor
do piso superior da Antiga Cadeia Civil, foram dispostas as vitrinas apresentando o jornal que documenta os trabalhos realizados nessa residência anterior; e algumas das celas da antiga prisão – hoje convertidas em salas de arquivo – serviram para expor o material recolhido na drop-box onde cada um dos participantes deixou registos do dia-a-dia da sua experiência em Sines: fotografias, registos audio e vídeo, desenhos, postais, recados…

A 12 de Dezembro inaugurou a exposição Paisagem e Povoamento II 
– Montemor-o-Novo, distribuída pelos espaços da Galeria Municipal e da Galeria 9 Ocre. Nesta ocasião foram apresentados os trabalhos desenvolvidos ao longo da residência. Por ter contado com o apoio
da Epson, as imagens foram todas impressas a jacto de tinta, com duas excepções: o retábulo pintado e as fotografias apresentadas
por Daniel Malhão.
Montemor-o-Novo, 2009

Carlos Afonso Lobo, Duarte Amaral Netto, Bárbara Assis Pacheco, José Pedro Cortes, Manuel Duarte, Sónia Galiza, Tatiana Macedo, Daniel Malhão, João Paulo Serafim, Rodrigo Tavarela Peixoto, Pauliana Valente Pimentel e Soraya Vasconcelos conheceram-se no Outono de 2005 na primeira edição do Curso de Fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística e, impulsionados pela vontade de continuar a desenvolver projectos em comum e de fazer e divulgar a fotografia de uma forma lata, independente e heterogénea, decidiram juntar-se enquanto grupo, dando corpo a um projecto catalisador da autonomia do olhar em torno da fotografia de autor.

A primeira actividade (realizada com o intuito de dar a conhecer a existência do grupo) foi a produção de uma edição de doze caixas com doze fotografias, uma de cada autor. Foi feita uma exposição – 12 fotografias numa caixa – numa loja desocupada (Rua do Alecrim 28B, Lisboa, de 26 de Maio a 4 de Junho de 2006), e a edição disponibilizada com a dupla intenção de apresentar o colectivo e de obter fundos para actividades futuras. Conscientes de que o investimento dos que adquiriram estes exemplares foi também uma manifestação de apoio à continuidade do grupo, tentou-se delinear aquilo que podia ser uma proposta programática para um colectivo reunindo doze autores, distintos nas suas práticas. Qual seria o lugar da acção colectiva do grupo? Que contributo poderia dar à prática artística e fotográfica?

Com estas questões em aberto, foram realizados mais dois projectos: o primeiro foi a colocação de Cartazes nas ruas de Lisboa, de forma anónima, denotando assim uma vontade de trabalhar independentemente de avais institucionais, e ainda uma vontade de agir em que a entidade do grupo seria maior que as entidades individuais: em que o todo equivaleria a algo diferente do que a soma das partes. A segunda iniciativa foi uma exposição numa casa devoluta. Esta exposição, f**22 fotografias numa matinée, realizada numa casa particular em Lisboa, durou apenas uma tarde, tendo sido convidado um segundo grupo de fotógrafos – Kameraphoto – a participar nesta exposição. Com esta iniciativa estabeleceu-se o desejo de que este projecto dos 12 fosse aberto e virado para o exterior. Estas duas actividades, apesar da sua pouca repercussão no tempo e no meio, foram determinantes na definição da identidade do grupo: (1) ao estabelecer a importância de um trabalho que transcenda a actividade individual dos participantes e (2) ao definir um projecto extrospectivo, valendo a dinâmica de grupo como rede de discussão e motor de ousadia.

No seguimento destas actividades surgiu o convite para a realização de uma exposição no Centro Cultural Emmerico Nunes (CCEN), no âmbito do programa XI Verão Arte Contemporânea, Sines 2008. De bom grado foi aceite este convite, tendo sido proposto, ao invés da habitual exposição colectiva, uma residência artística que entre Maio e Setem- bro de 2008, numa casa alugada para o efeito, permitisse aos diversos autores residir, trabalhar e partilhar os seus projectos in loco. Neste sentido, foi também delineado que a apresentação dos trabalhos em curso fosse realizada em duas fases distintas, de modo a potenciar um carácter processual – onde, mais do que a apresentação de trabalhos finalizados, se tivesse em conta o envolvimento continuado com a comunidade e o local onde se inseriam. Destas premissas resultaram as exposições Paisagem e Povoamento I (12 de Julho a 17 de Agosto) e Paisagem e Povoamento II (23 de Agosto a 30 de Setembro).

Ao longo dos cinco meses que durou o projecto de Sines, os 12 com a colaboração do CCEN e apoiados pela Direcção Geral das Artes e a Epson, puderam percorrer Sines e a área envolvente, incluindo as indústrias locais, determinantes na paisagem e povoamento da zona: a refinaria da Petrogal, a central termo-eléctrica da EDP e a fábrica Recipneu abriram as suas instalações. Os 12 puderam desenvolver os seus trabalhos tendo como ponto de partida a cidade, a sua população, o seu contexto histórico, económico, territorial, e o que mais aprouvesse, pois pretendeu-se que este projecto não impusesse aos seus participantes quaisquer definições temáticas e / ou conceptuais. A única premissa foi a de que deveria ser executado e apresentado no local.

No seu todo, o projecto envolveu várias actividades para além das duas fases da exposição. Foi instalada numa loja desocupada perto do CCEN, a Biblioteca Mínima sobre Paisagem; neste espaço foi criada uma zona de lazer / leitura onde se podiam consultar livros escolhidos e emprestados por cada um dos 12 nos quais podiam ser intuídas algumas das influências e ideias fundadoras da percepção de Paisagem e Povoamento (citação do subtítulo de Finisterra de Carlos de Oliveira) para cada um dos artistas. Aí estavam ainda afixados exemplares dos cartazes que, na véspera da primeira parte da exposição, os 12 colaram pela cidade de Sines.

Também foi realizado um workshop de fotografia com a duração de dois dias que contou com a colaboração do CCEN, da Embaixada Lomográfica e da Santa Casa da Misericórdia de Sines, foram feitas visitas guiadas à exposição pelos artistas e uma visita para escolas do concelho. Quiseram-se estabelecer ligações mais fortes com o lugar, aumentando assim a área de intervenção de um projecto artístico muito para além do espaço expositivo, permitindo a descoberta de uma cidade, das suas pessoas e da(s) sua(s) história(s). A tradução dessa realidade pelo olhar de doze fotógrafos / artistas, que também se davam a conhecer e se expunham à crítica da comunidade local, estabeleceu uma presença que, para além de se revelar frutífera em termos de trabalho artístico, acabou por ser um privilegiado processo de conhecimento. Ainda no sentido de potenciar o carácter processual do projecto, foi colocada na residência uma caixa de arquivo – Drop Box –, onde cada um dos membros do grupo ia depositando registos / resíduos do seu dia-a-dia: fotografias, desenhos, postais, recados, registos sonoros… aquilo que cada um achou marcante e pertinente (ou porque sim) no decorrer da sua experiência Sineense, era largado na caixa, servindo esta como testemunho reconstrutor dessa mesma experiência.

Deste processo acumulativo resulta a segunda parte desta publicação, na qual se reproduzem, à escala de 1:1, os diversos materiais depositados na drop-box. Na primeira – os presentes Jornais de Exposição – surgem representados a totalidade dos trabalhos expostos assim como o registo de outras actividades extra-expositivas. Pelo desenho desta publicação, os 12 querem agradecer viva- mente o empenho e competência de Joana Baptista Costa e Mariana Leão. Um agradecimento profundo é devido a Isabel Silva, de quem o grupo recebeu o estímulo e apoio fundamentais para a concretização deste projecto. Os 12 estendem o seu agradecimento a José Mouro, Luis Silva, Manuela Fonseca, Celina Arroz e Luis Arroz – a equipa do CCEN que pelo seu convite tornou possível esta residência. Pela preciosa colaboração em vários aspectos dos trabalhos realizados, o grupo agradece a Fernando Costa, Pedro Baptista, Eng. Fernando Machado, a equipa da Segurança da Petrogal, os pescadores da Docapesca, ao Eng. Helder Candeias e Eng. Jorge Carmo. Pela amabilidade e profissionalismo os 12 agradecem a Filipa Coelho da Epson.
Resta apenas dizer que, enquanto grupo, os 12 recusam a ideia de um manifesto visual ou fotográfico, sendo as características heterogéneas do projecto um espelho das práticas individuais dos seus elementos.
Sines, 2008