Crença

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Disambig grey.svg Nota: Para o conceito no contexto religioso, veja Crença religiosa.
Diagrama do Conhecimento. Em amarelo representa-se o conhecimento como um conjunto de crenças verdadeiras, que foram provadas e justificadas. Em marrom estão as crenças verdadeiras, mas ainda não provadas. Em azul representam-se as crenças falsas, e em vermelho, as verdades desconhecidas.
A lenda da Fênix ressuscitando das cinzas é uma crença na ressurreição tão impressa na civilização ocidental que passou nos planos simbólicos e literários.

Crença é o estado psicológico em que um indivíduo adota e se detém a uma proposição ou premissa para a verdade,[1] ou ainda, uma opinião formada ou convicção.[2]

Crença, conhecimento e epistemologia[editar | editar código-fonte]

Os termos crença e conhecimento são usados ​​de formas diferentes na filosofia.

A Epistemologia é o estudo filosófico do conhecimento e da crença. O principal problema na epistemologia é entender exatamente o que é necessário para que nós tenhamos conhecimento verdadeiro. Em uma noção derivada do diálogo de Platão Teeteto, a filosofia tem tradicionalmente definido conhecimento como "crença verdadeira justificada". A relação entre crença e conhecimento é que uma crença é o conhecimento, se a crença é verdadeira e se o crente tem uma justificativa (afirmações/provas /orientações razoáveis ​​e necessariamente plausíveis) para acreditar que é verdade.

A falsa crença não é considerada conhecimento, mesmo que seja sincera. Por exemplo, um crente da teoria da Terra plana não sabe que a Terra é esférica. Mais tarde, os epistemólogos por exemplo Gettier (1963)[3] e Goldman (1967),[4] questionaram a definição de "crença verdadeira justificada".

Como Descartes, Peirce começou diferenciando crença de dúvida. Para ele, esses são dois estados de mente relativamente fáceis de distinguir, o estado de dúvida, observa ele, é "um estado irritante e insatisfatório, do qual lutamos para nos libertar"; diferentemente, o estado de crença "é calmo e satisfatório". Não somente sentimos um forte desejo de converter a dúvida em crença, mas chegamos a nos esforçar para manter as crenças que já temos, para evitar cair novamente em dúvida. Peirce diz "Atemo-nos tenazmente, não somente a crer, mas a crer exatamente naquilo que já cremos."[5][6]

Crença e psicologia[editar | editar código-fonte]

Na psicologia, o termo crença na autoeficiência define a crença de alguém em seu próprio poder de agir de modo efetivo ou de influencia eventos. Associada ao trabalho de Albert Bandura, a teoria da autosuficiência argumenta que uma forte crença na autosuficiência contribui para um senso positivo de lidar com o mundo, portanto está intimamente ligada com a noção de locus interno de controle.[7] De acordo com Bandura, é mais saudável psicologicamente para um indivíduo ter uma crença em sua autosuficiência levemente mais alta do que a evidência pode garantir, desde que isso o encoraje a assumir tarefas mais difíceis e a persistir nelas.[7]

As crenças são, por vezes, divididas em crenças raiz (que estão ativamente pensadas) e crenças disposicionais (a que pode ser atribuída a alguém que não tenha pensado sobre o assunto). Por exemplo, se questionado: "Você acredita que tigres vestem pijamas?" um indivíduo pode responder que não, apesar do fato de nunca ter pensado sobre essa situação antes.[8]

A formação da crença[editar | editar código-fonte]

Os estudos da psicologia sobre a formação das crenças e a relação entre crenças e ações indicam vários modos de formação de crenças:

  • pela interiorização das crenças das pessoas que nos rodeiam durante a infância. Albert Einstein é frequentemente citado como tendo dito que "O senso comum é a coleção de preconceitos adquiridos até aos dezoito anos."[9] A maioria das pessoas acredita na religião ensinada e vivida na infância.[10]
  • pela adoção das crenças de um líder carismático, mesmo que essas crenças sejam negadas por todas as crenças anteriores e produzam ações opostas aos interesses do indivíduo.[11] A crença é voluntária? Indivíduos racionais precisam conciliar sua realidade direta com qualquer dita crença e, portanto, se a crença não está presente ou possível, isso reflete o fato de que as contradições eram necessariamente superadas, usando dissonância cognitiva.
  • como resultado da propaganda , a qual utiliza a repetição, choque e associação com imagens de sexo, amor, beleza e/ou símbolos de fortes emoções positivas para criar ou alterar crenças.[12]
  • como resultado de trauma físico (especialmente na cabeça) que pode alterar radicalmente as crenças de um indivíduo.[13]

Até as pessoas mais educadas e conscientes do processo de formação de crenças se agarram firmemente às suas crenças e agem de acordo com elas, mesmo contra seu próprio interesse. Na Teoria da Liderança de Anna Rowley, ela afirma: "Você quer que suas crenças mudem. É a prova de que você está mantendo os olhos abertos, vivendo plenamente e aceitando tudo o que o mundo e as pessoas ao seu redor podem lhe ensinar." Isso significa que as crenças dos povos devem evoluir à medida que ganham novas experiências.[14]

A "crença em"[editar | editar código-fonte]

"Crer/acreditar em" alguém ou alguma coisa é um conceito distinto de "crer/acreditar que". Existem dois tipos de "crença em":[15]

  • Crença (ou afirmação) comendatária - uma expressão de confiança em uma pessoa ou entidade, como em "Eu acredito em sua capacidade de fazer o trabalho."
  • Crença (ou afirmação) existencial - uma reivindicação de crença na existência de uma entidade ou fenômeno, que manifesta a necessidade implícita de justificar a pretensão de existência dessa entidade ou fenómeno. É frequentemente usada quando a entidade não é real, a sua existência é controversa, ou é posta em dúvida. Exemplos típicos: "Eu acredito em Deus", "Ele acredita em bruxas e fantasmas" ou "Muitas crianças acreditam em Papai Noel".[16]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Wikiquote
O Wikiquote possui citações de ou sobre: Crença

Referências

  1. Schwitzgebel, Eric (2006), «Belief», in: Zalta, Edward, The Stanford Encyclopedia of Philosophy, Stanford, CA: The Metaphysics Research Lab, consultado em 19 de setembro de 2008  (em inglês)
  2. Dicionário UNESP do português contemporâneo. [S.l.]: UNESP. 2004. p. 358. ISBN 978-85-7139-576-3 
  3. Gettier, E. L. (1963). «Is justified true belief knowledge?». Analysis. 23 (6): 121–123. JSTOR 3326922 
  4. Goldman, A. I. (1967). «A causal theory of knowing». The Journal of Philosophy. 64 (12): 357–372. JSTOR 2024268 
  5. Charles Sanders Peirce. The Essential Peirce, Volume 1: Selected Philosophical Writings (1867–1893). I. [S.l.]: Indiana University Press. p. 114. ISBN 978-0-253-20721-0 
  6. CORNELIS DE WAAL. Sobre pragmatismo. [S.l.]: LOYOLA. p. 32. ISBN 978-85-15-03295-2 
  7. a b Peter Stratton (2003). Dicionário de Psicologia. [S.l.]: Cengage Learning Editores. p. 55. ISBN 978-85-221-0091-0 
  8. Bell, V.; Halligan, P. W.; Ellis, H. D. (2006). «A Cognitive Neuroscience of Belief». In: Halligan, Peter W.; Aylward, Mansel. The Power of Belief: Psychological Influence on Illness, Disability, and Medicine. Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-853010-2  (em inglês)
  9. Gelman, Andrew; Park, David; Shor, Boris; Bafumi, Joseph; Cortina, Jeronimo (2008). Red State, Blue State, Rich State, Poor State: Why Americans Vote the Way They Do. [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 978-0-691-13927-2 
  10. Argyle, Michael (1997). The Psychology of Religious Behaviour, Belief and Experience. London: Routledge. p. 25. ISBN 0-415-12330-5. A religião, na maioria das culturas, é atribuída, não escolhida.  (em inglês)
  11. Hoffer, Eric (2002). The True Believer. New York: Harper Perennial Modern Classics. ISBN 0-06-050591-5 
  12. Kilbourne, Jane; Pipher, Mary (2000). Can't Buy My Love: How Advertising Changes the Way We Think and Feel. [S.l.]: Free Press. ISBN 0-684-86600-5  (em inglês)
  13. Rothschild, Babette (2000). The Body Remembers: The Psychophysiology of Trauma and Trauma Treatment. New York: W. W. Norton & Company. ISBN 0-393-70327-4  (em inglês)
  14. Rowley, Anna (2007). Leadership Therapy: Inside the Mind of Microsoft. Basingstoke: Palgrave Macmillan. p. 69. ISBN 1-4039-8403-4  (em inglês)
  15. MacIntosh, J. J. (1994). «Belief-in Revisited: A Reply to Williams». Religious Studies. 30 (4): 487–503. doi:10.1017/S0034412500023131 
  16. Macintosh, Jack. «Belief-in». The Oxford Companion to Philosophy. [S.l.: s.n.] p. 86. ISBN 978-0-19-926479-7  (em inglês)